Browsing: O Silêncio Que Ecoa na Farda: Um Alerta Sobre a Saúde Mental dos Policiais

O Silêncio Que Ecoa na Farda: Um Alerta Sobre a Saúde Mental dos Policiais

Mais uma vez, a notícia nos rasga por dentro: um jovem policial, recém-formado, tirou a própria vida em plena luz do dia. Rodrigo fazia parte da nova turma incorporada à Polícia Militar do Amazonas. Um rapaz cheio de sonhos, de vontade de servir… mas que, silenciosamente, estava esgotado. A dor que ele carregava calado agora ecoa forte: a tropa está doente.

A morte de Rodrigo não passou despercebida. Ela abalou seus companheiros de farda, trouxe à tona feridas abertas há tempos — a rotina exaustiva, as escalas abusivas, o descaso com a saúde mental, a solidão de quem carrega o peso de proteger uma sociedade que nem sempre reconhece esse esforço. O luto se transformou em desabafo. Em cobrança. Em clamor.

Rodrigo trabalhava em uma escala de cinco dias seguidos para dois de folga. Seus colegas descrevem uma rotina esmagadora, que aos poucos foi apagando o brilho nos olhos daquele que, até pouco tempo, vestia a farda com orgulho. Recebi mensagens de muitos policiais e de suas esposas. Todas com um tom parecido: um pedido de socorro. Gritam por condições mais humanas, por atenção, por respeito.

Nunca saberemos exatamente o que se passou dentro do Rodrigo. Mas o fato de ele ter partido usando sua farda diz muito. Foi um gesto doloroso, talvez até simbólico. Um último chamado. E isso nos leva a uma pergunta urgente: quem está cuidando da saúde mental dos nossos policiais?

Será que os exames psicológicos realizados antes da admissão são suficientes? Será que estamos realmente preparados para dizer a alguém: “por mais que você tenha estudado, por mais que deseje estar aqui, sua saúde precisa vir em primeiro lugar”? É cruel. Mas é necessário. Porque quando um policial morre por suicídio, é o sistema inteiro que está falhando.

E aí você pode me dizer: “Ah, Lomittas, era só melhorar a polícia.” E eu te entendo. Mas, como já dizia o Capitão Nascimento: “o sistema é foda, parceiro.” E dentro desse sistema, o policial é rotulado, atacado, generalizado. Saem de casa todos os dias sem saber se voltam. Morrem por desconhecidos. E são esquecidos logo depois. “Ele escolheu essa vida”, dizem. Mas ninguém escolhe ser desvalorizado. Ninguém escolhe ser ignorado quando mais precisa de ajuda.

Enquanto isso, nossos governantes seguem de olhos fechados. As leis seguem inalteradas. E o peso nas costas dessa tropa só aumenta. Por isso, mais do que nunca, é hora de parar. Respirar. Olhar com mais profundidade. Tentar entender: quais eram as dores do Rodrigo?

Só em Manaus, de 4 a 6 pessoas morrem por suicídio todos os dias. Todos os dias. Isso não te assusta? Porque a mim, assusta. E muito. A saúde mental virou um luxo. Mas não deveria. Deveria ser prioridade. Deveria ser sagrada.

Eu, Lomittas, já estive frente a frente com a morte. Já negociei com ela. E posso te afirmar, com o coração aberto: ninguém quer tirar a própria vida — o que a gente quer, de verdade, é tirar a dor.

Queremos voltar a ver cor onde só tem cinza. Queremos respirar de novo. E, por isso, deixo aqui um convite sincero: cuide da sua saúde mental. Olhe pra dentro. Nenhum CNPJ, nem mesmo aquele que você tanto sonhou, vale o seu CPF.

Toda minha admiração e respeito à tropa da Polícia Militar. Vocês são a linha que separa a ordem do caos. Máximo respeito. E, acima de tudo, que não falte vida — com dignidade — pra quem todos os dias se dispõe a proteger a nossa.

Com carinho,
Lomittas