
A manhã desta segunda-feira (27) foi de despedida e comoção na quadra da escola de samba Vitória Régia, no bairro Praça 14, onde amigos, familiares e ícones do samba amazonense se reuniram para prestar as últimas homenagens a Paulo Onça, considerado uma das maiores referências do gênero no estado.
Mais do que um sambista, Paulo Onça era símbolo de resistência cultural e paixão pela arte popular. Com sua voz inconfundível e carisma marcante, ele ajudou a moldar a identidade do samba em Manaus, influenciando gerações e deixando um legado que atravessa décadas.
A quadra da escola, que por tantos anos foi sua segunda casa, se transformou em um verdadeiro santuário. Em meio a flores, estandartes e o som suave dos tamborins, representantes de diversas agremiações, ritmistas, passistas e admiradores prestaram homenagens carregadas de emoção.
“Paulo era do povo, da rua, da cultura viva. Ele era o samba do Amazonas em carne e alma”, declarou, com lágrimas nos olhos, Dona Marlene, integrante da velha guarda da Vitória Régia.
Entre os presentes estava o cantor e compositor Júnior Rodrigues, um dos nomes mais destacados da nova geração do samba local. Visivelmente emocionado, ele relembrou a amizade e a influência de Paulo em sua trajetória. “Ele não era só um mestre do samba, era um mestre de vida. Foi ele quem me levou ao meu primeiro ensaio. Hoje canto com dor, mas com gratidão”, disse antes de interpretar um trecho de um samba-enredo histórico da escola.
A bateria “Furiosa” da Vitória Régia encerrou a cerimônia com uma última apresentação simbólica. O toque do surdo de terceira foi silenciado — gesto tradicional que representa o luto no samba — seguido de uma longa salva de palmas que tomou a quadra em forma de despedida.
A família acompanhou a cerimônia de perto, recebendo o carinho e apoio da comunidade. A filha mais velha, em discurso comovente, resumiu a essência do pai: “Ele viveu pelo samba e para o samba. Hoje ele se vai, mas sua alma vai ecoar em cada tamborim, em cada desfile, em cada canto dessa quadra.”