Balanço do uso do Cotão dos Deputados Federais mostra que apenas Amon Mandel usa esse tipo de verba com moderação

A bancada de deputados federais do Amazonas usou, no primeiro semestre, R$ 1.787.104,52 da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP), o “Cotão”, o que representou quase R$ 10 mil a cada um dos 180 dias de janeiro a junho.
A verba do Cotão é destinada para uso com escritórios dos parlamentares em Brasília e no Estado. Os dados constam do portal da Transparência da Câmara Federal.
O maior “gastão” do semestre foi o deputado Sidney Leite (PSD), que usou R$ 289.847,90 do cotão, seguido de perto por Pauderney Avelino (União Brasil), com gastos de R$ 276.924,90; e Adail Filho (Republicanos), com R$ 275.648,48.
Na outra ponta, os mais econômicos foram Amon Mandel (Cidadania), com apenas R$ 34,334,62 e Alberto Neto (PL), que usou R$ 161,809,21).
A principal despesa feita pelos parlamentares do Amazonas foi com Divulgação da Atividade Parlamentar: R$ 566.715,68. O único que não usou verba para este tipo de despesa foi Amon Mandel.
Adail Filho (R$ 190 mil), Sidney Leite (R$ 136,5 mil) e Pauderney (R$ 85.235,68) foram os deputados que mais investiram na divulgação de suas atividades.
Cotão: Veja quanto gastou cada deputado do AM:
- Sidney Leite (PSD): R$ 289.847,25;
- Pauderney Avelino (União Brasil): R$ 276.924,90;
- Adail Filho (Republiicanos): R$ 275.648,48;
- Átila Lins (PSD): R$ 257.572,59;
- Fausto Júnior (União Brasil) R$ 248.727,68;
- Silas Câmara (Republicanos: R$ 242.239,79;
- Alberto Neto (PL): R$ 161.809,21;
- Amon Mandel (Cidadania): R$ 34.334,62.
Dá para viver sem Cotão?
O parlamentar que menos usou verbas do Cotão, Amon Mandel usa em média R$ 5,7 mil a cada mês do primeiro semestre, o que dá R$ 190 por dia. Para efeito de comparação, Sidney Leite usa em média R$ 1.610,26 por dia, quase dez vezes mais que Amon.
Desde que entrou na vida pública, Amon mantém-se afastado de usar esse tipo de verba, comportamento que catapultou o nome dele quando era vereador em Manaus e era o único dos 41 vereadores que não tinha gastos deste tipo.
Conforme o portal de Transparência da Câmara Federal, cada parlamentar do Amazonas tem direito usar R$ 49.363,92. Portanto, cada deputado da nossa bancada poderia gastar no semestre encerrado em junho R$ 296.183,52.
Mecanismo do Cotão é criticado desde a criação
O cotão é um dos mecanismos mais controversos do sistema político brasileiro. Criado com o intuito de reembolsar parlamentares por despesas diretamente relacionadas ao exercício do mandato — como passagens aéreas, aluguel de escritório, combustíveis, consultorias e divulgação do mandato —, essa verba escancara a distância entre a elite política e a realidade da população que a sustenta.
Na teoria, o cotão é um instrumento para garantir a autonomia do parlamentar e viabilizar a representação dos estados na capital federal. No entanto, na prática, o que se vê com frequência é o uso excessivo — ainda que legal — e muitas vezes desnecessário desses recursos.
O problema, defendem os críticos deste sistema, não é apenas o valor elevado das cotas, que variam conforme o Estado de origem do deputado, mas a frouxidão dos critérios para uso e fiscalização.
Há casos notórios de gastos com empresas de fachada, consultorias genéricas, passagens para familiares, divulgação autopromocional em ano eleitoral e até abastecimento de veículos muito acima do razoável. Esses episódios, repetidos ao longo dos anos, revelam como o cotão se converteu em uma espécie de privilégio institucionalizado, distante do seu propósito original.
Enquanto o cidadão comum precisa justificar cada centavo em sua declaração de imposto de renda, parlamentares gastam milhares de reais mensais com uma prestação de contas superficial, muitas vezes aprovada com base apenas em notas fiscais digitalizadas, sem auditorias rigorosas. Essa disparidade é corrosiva para a confiança na democracia.