Lula adere a campanha do PT que pede a taxação dos “super-ricos” em postura interpretada como um confronto a parte do Congresso Nacional

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) alcançou em um dia, com um único vídeo crítico ao mote ‘pobres x ricos’, 88% do engajamento que o presidente Lula, o PT e o governo federal atingiram em uma semana no Instagram com a publicação de conteúdos que buscaram mostrar o petista como defensor dos pobres enquanto o Congresso estaria a favor das elites e dos ricos.
Os dados foram levantados a pedido da reportagem por Marcello Natale, sócio da agência Bn3 – Marketing Baseado em Números.
Desde 2 de julho, os perfis do PT, do presidente e do governo federal no Instagram publicaram 20 vídeos, fotos e textos com referências ao mote dessa campanha -parte deles, patrocinado para aumentar o público atingido.
Lula adere a campanha do PT que pede a taxação dos “super-ricos” em postura interpretada como um confronto a parte do Congresso Nacional. O partido divulgou montagens com uso de inteligência artificial para defender a necessidade de aumentar a cobrança de impostos dos mais ricos, que eles apelidaram de BBB (bilionários, bancos e bets).
O vídeo com maior público atingido foi o do “Boteco do Brasa”, que mostra uma mesa de bar. “Tu consumiu champanhe, caviar, lagosta, e vai pagar menos do que a gente que só ficou na brejinha e no torresminho?”, questiona um dos clientes.
Foram 20 milhões de visualizações de sexta (4) até a noite de terça (8), mas apenas 16,7 mil curtidas e 1,6 mil comentários. O PT gastou entre R$ 90 mil e R$ 100 mil em patrocínio para ampliar o alcance, de acordo com a biblioteca de anúncios da Meta, dona do Instagram.
O post com maior engajamento, com 348 mil interações, foi uma foto em que Lula ergue uma placa em que está escrito “taxação dos super-ricos” durante evento na Bahia. “Mais justiça tributária e menos desigualdade. É sobre isso”, diz a legenda.
A campanha dos “ricos x pobres” surgiu como uma resposta à derrubada pelo Congresso do decreto presidencial que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e à resistência dos parlamentares ao pacote de alta de impostos proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fechar as contas do governo até o fim do atual mandato.
Outros atores da esquerda também se engajaram nessa pauta. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), cotado para a Secretaria-Geral da Presidência, alcançou 128 mil curtidas e comentários ao divulgar um ato em São Paulo no dia 10 de julho para cobrar a aprovação do projeto que isenta o imposto de renda de quem ganha até R$ 5 mil.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) recebeu 95 mil reações ao defender que “quem ganha mais tem que pagar mais pra que quem ganha menos pague menos” e apresentar uma emenda proposta ao projeto da desoneração do imposto de renda, com a sugestão de dobrar a taxação que Haddad propôs sobre os mais ricos.
Políticos de direita também tinham atacado o governo e Lula sobre o tema, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que conseguiu 73 mil reações no Instagram ao pedir que as pessoas compartilhassem “a verdade antes que te censurem” sobre o aumento do IOF.
Esses conteúdos, no entanto, ficaram bem atrás do publicado por Nikolas Ferreira no Instagram na segunda-feira (7). O deputado gravou um vídeo em que acusa o governo de mentir na campanha e aponta para “gastos luxuosos” de Lula e da primeira-dama Janja da Silva, como viagens internacionais e o uso de uma gravata de R$ 1.680 pelo presidente.
O vídeo teve, até à noite de terça, 13,2 milhões de visualizações, menos do que o “boteco do brasa”. Mas chegou a 1,1 milhão de curtidas e 67,5 mil comentários, de longe o com maior alcance nas redes sociais sobre o assunto.
Natale, da agência Bn3, afirma que a campanha dos “ricos versus pobres” foi a primeira iniciativa do PT que conseguiu se espalhar para o ecossistema progressista de forma rápida e atingir o público com uma estratégia bem-sucedida: pauta definida, bons conteúdos de apoio, aliados reverberando e o público engajado.
No entanto, o vídeo do deputado federal mostrou as limitações dessa estratégia. “Ninguém quer ser convencido. As pessoas querem ser validadas”, diz. O sucesso do parlamentar, afirma, é saber ler a opinião pública e condensar num material bem-produzido “o que todo mundo queria ter dito primeiro”
Com informações Jornal de Brasília