Estudo do Unodc expõe como danos envolvem uso de mercúrio, desmatamento e despejo de resíduos; facções ligadas ao tráfico de drogas na América Latina exploram minério para aumentar lucros e lavar dinheiro

Exploração de ouro intensifica crimes e ameaças ambientais, alerta ONU
A crescente demanda mundial por minerais está impulsionando uma onda de crimes, corrupção e instabilidade, segundo um novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). O documento revela como a mineração ilegal de ouro tem provocado sérios danos ambientais, sociais e econômicos, especialmente em regiões sensíveis como a Amazônia.
De acordo com o estudo, práticas ilegais como o uso de mercúrio — substância tóxica e proibida —, o desmatamento e o despejo irregular de resíduos sólidos têm degradado ecossistemas, acelerado a perda da biodiversidade e colocado em risco a saúde das comunidades locais.
A alta cotação do ouro no mercado internacional tem atraído grupos criminosos organizados para a cadeia de suprimento do metal. Facções envolvidas no tráfico de drogas, particularmente na América Latina, passaram a operar também na mineração ilegal, aproveitando rotas e estruturas logísticas já estabelecidas para o contrabando.
Nos últimos dez anos, as áreas de garimpo ilegal em terras indígenas da Amazônia aumentaram 625%, abrangendo países como Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Uma série de estudos conduzidos pelo Unodc na Bacia do Rio Tapajós, no Pará, mostra que cerca de dois terços da produção local de ouro são provenientes de atividades ilícitas.
Essas operações são frequentemente sustentadas por esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro. No Brasil, a Polícia Federal investiga como o ouro tem sido usado para escoar recursos oriundos do narcotráfico.
Além dos impactos ambientais, os povos indígenas da Amazônia sofrem com a poluição gerada por queimadas, muitas vezes relacionadas ao avanço do garimpo. Outro problema grave apontado pelo Unodc é o tráfico humano. Com base em mais de 800 entrevistas realizadas em 2023, a agência identificou que 40% dos garimpeiros são potenciais vítimas de trabalho forçado.
As condições de trabalho são precárias: jornadas médias de 12,5 horas diárias por 6,5 dias na semana, com relatos de recrutamento enganoso e ausência de direitos básicos. Problemas de saúde mental e acidentes graves são comuns — 71% dos entrevistados relataram quadros de ansiedade e depressão, e 44% disseram já ter sofrido acidentes sérios.
O estudo também destaca a presença de tráfico de mulheres e meninas para exploração sexual nas áreas de garimpo, além do aumento da violência de gênero e de mortes violentas nessas regiões.
A chefe de Pesquisa e Análise do Unodc, Angela Me, defendeu melhores dados e mais harmonização global de legislações para responder rapidamente à exploração criminosa do setor de mineração.